segunda-feira, 4 de julho de 2011

Poesia DE MATUNGOS E GAITAÇOS

De matungos e gaitaços, me fiz peão por destino.
Que outra sorte um campesino pode cobrar desta vida,
Se os pobres nascem pra lida e a mim tocou ser campeiro?
Desde guri cavaleiro, domador por profissão.
Por lambuja do patrão coma graça de ser gaiteiro.

Voando em baguais e potros, pernas firmes sem esporas,
Num galope campo fora, o pasto é o céu esverdeado.
Me vou de chapéu tapeado, contando com Deus e a sorte,
Não tenho medo da morte, mas nunca afrouxo o garrão
Pra lidar com redomão, olho aberto e braço forte.

Por respeitar as crendices, não enfreno na lua nova.
Certa feita eu tive a prova de um mouro que deu babão,
De natureza, quebralhão, se aporreou por ser malino.
Tinha a marca do destino, me palpitou na pegada,
Bagual da venta rasgada não nasce pro pasto fino.

E quando as noites se amansam nas luas cheias do outono,
Nem se mexe o cinamomo prá escutar canto e cordeona,
Uma polquita chorona, num trotesito chasqueiro,
Embala a luz do candeeiro anomando as sombras mortas,
E o fole rouco se entorta num compasso galponeiro.

Não raro o sono se arisca e a solidão me acompanha.
Golpeio um trago de canha e enquanto a noite se alonga,
Vou repontando milongas das hileiras assoleadas,
E as rudes mãos calejadas de mango, rédeas e crinas
Vão se parando franzinas no acorde das madrugadas.

Primeiro, o canto dos galos, depois a barra do dia.
A boieira, estrela guia, aos poucos vai se apagando,
Do pampa se levantando, nessas auroras serenas
Brotam xucras cantilenas no clarim da passarada
Com relinchos da potrada e o guizo, das nazarenas.

Rodadas, não tive muitas, em domas, se roda pouco,
Mas “hai” sempre um potro louco, velhaqueador, caborteiro,
Que o índio por mais ligeiro, não se afirma nos arreios
Às vezes, um tombo feio, às vezes saio parado.
Po isso evito alambrado e o pelado dos rodeios.

Pelos surungos do povo, tocando gaita em bolichos,
Vez por outra algum cambicho reacende o sonho de um rancho,
Mas o destino carancho me acorda num sofrenaço
E aos corcovos e laçaços, sempre lidando sozinho
Volto a trilhar os caminhos de Matungos e Gaitaços.

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