Um palmo e pico de aço,
rude e glorioso pedaço
da espada de um general.
Cabo de prata estrangeira
- velha faca brigadeira
que nunca me deixou mal.
Nesse tempo eu era moço,
não tinha o sangue tão grosso
nem a memória tão fraca.
Índio gaudério sem marca
era maior que um monarca
quando empunhava essa faca.
Mas não era compra-briga,
desses que enchem a barriga
em bochinchos de galpão.
Mui amigo do sossego
não arriscava o pelego
em "rolos" sem precisão.
Mas quando lá volta e meia
me entreverava em peleia
por honra ou obrigação,
afrontava qualquer risco
e essa faca era um corisco
brigando na minha mão.
Sei que há quem ria disso:
- a faca tinha feitiço,
coisa botada, sei lá!
Se escapava da bainha
e ia brigar sozinha
se eu deixasse ela brigar!
Mas Dom Tempo barbaçudo
que dá sumiço em tudo,
coisa viva e coisa morta,
foi-se chegando ronceiro,
cruzou sem pressa o terreiro,
passou depois pela porta.
Quantas vezes já nem lembro,
vi enfeitar-se setembro
com as flores roxas do ipé.
Do moço de antigamente
resta este trapo de gente
que mal e mal fica em pé...
E a velha faca amigaça
me acompanhou na desgraça,
me aparceirou na miséria.
- Extraviada da bainha,
ainda lá pela cozinha
nas mãos da negra Quitéria.
Contos do Pago Gaúcho
"vem chegando o campeirismo, no embalo do gauchismo, a força que vem do Sul, uma gaita bem gaúcha, misturada num poema, o quero-quero a siriema, araponga e a gralha azul, nesse meu toque campeiro, tem mate, fandango e china..."
sábado, 23 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Musica TERRA SAUDADE
Esta musica simboliza a terra de Cruz Alta - RS.
No alto da serra um dia
Uma alta cruz foi plantada
Junto a capela fundada
Pelos nossos ancestrais
E no chão cheio de vida
Nasceu uma terra querida
Cruz alta dos trigais
Quem bebe a água da fonte
Carrega a cruz da paixão
Esse é o pealo derradeiro
Pera aquecer nesse chão
Cruz Alta da Panelinha
Tem dita fonte encantada
Quem bebe aqui faz morada
Eu que em teu seio nasci
Vou mergulhar em tuas águas
Para afogar minhas mágoas
Por estar longe de ti
A minha infância gaudéria
Entre teus campos dourados
Em meio a bois e arados
Que tristeza já passou
Hoje as picadas no mato
São corredores de asfalto
Que o progresso te legou
No alto da serra um dia
Uma alta cruz foi plantada
Junto a capela fundada
Pelos nossos ancestrais
E no chão cheio de vida
Nasceu uma terra querida
Cruz alta dos trigais
Quem bebe a água da fonte
Carrega a cruz da paixão
Esse é o pealo derradeiro
Pera aquecer nesse chão
Cruz Alta da Panelinha
Tem dita fonte encantada
Quem bebe aqui faz morada
Eu que em teu seio nasci
Vou mergulhar em tuas águas
Para afogar minhas mágoas
Por estar longe de ti
A minha infância gaudéria
Entre teus campos dourados
Em meio a bois e arados
Que tristeza já passou
Hoje as picadas no mato
São corredores de asfalto
Que o progresso te legou
quinta-feira, 7 de julho de 2011
A Lenda da Panelinha de Cruz Alta
A Lenda da Panelinha é a mais tradicional da cidade. Remonta a época em que os primeiros moradores estabeleceram-se em Cruz Alta, lá pelos idos de 1805, formando um pequeno amontoado de casas onde hoje é a Praça Erico Verissimo. Ali próximo, havia uma mata chamada de Capoeira, onde era extraída a madeira para lenha e para as construções. Na direção oposta, onde hoje forma-se a esquina da João Manoel com a Venâncio Aires, havia uma nascente para o abastecimento do vilarejo, chamada de arroio Panelinha. Sua segunda vertente desemboca na esquina da Gal. Portinho com a Andrade Neves.
Nesta segunda vertente, a água límpida e abundante jorrava como uma cachoeira. Era onde as lavadeiras batiam a roupa.
Seguidamente, apareciam tropeiros, que paravam por ali para saciar a sede. Eventualmente, muitos desses viajantes engraçavam-se com as mulheres locais, e, na maioria dos casos, acabavam retornando, geralmente para casar-se com a moça e fixar residência por aqui. E nessas idas e vindas, o imaginário popular acabou por enraizar o entendimento de que, todo aquele que bebia a água da Panelinha, acabava, inevitavelmente, voltando para Cruz Alta.
Seguidamente, apareciam tropeiros, que paravam por ali para saciar a sede. Eventualmente, muitos desses viajantes engraçavam-se com as mulheres locais, e, na maioria dos casos, acabavam retornando, geralmente para casar-se com a moça e fixar residência por aqui. E nessas idas e vindas, o imaginário popular acabou por enraizar o entendimento de que, todo aquele que bebia a água da Panelinha, acabava, inevitavelmente, voltando para Cruz Alta.
A fama do local acabou servindo de prato cheio para alimentar a esperança das moçoilas casamenteiras, que, quando atingiam a "idade de casar", tratavam de levar o pretendente para beber a água da Panelinha. Assim eles retornariam e firmariam o casório.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Poesia DE MATUNGOS E GAITAÇOS
De matungos e gaitaços, me fiz peão por destino.
Que outra sorte um campesino pode cobrar desta vida,
Se os pobres nascem pra lida e a mim tocou ser campeiro?
Desde guri cavaleiro, domador por profissão.
Por lambuja do patrão coma graça de ser gaiteiro.
Voando em baguais e potros, pernas firmes sem esporas,
Num galope campo fora, o pasto é o céu esverdeado.
Me vou de chapéu tapeado, contando com Deus e a sorte,
Não tenho medo da morte, mas nunca afrouxo o garrão
Pra lidar com redomão, olho aberto e braço forte.
Por respeitar as crendices, não enfreno na lua nova.
Certa feita eu tive a prova de um mouro que deu babão,
De natureza, quebralhão, se aporreou por ser malino.
Tinha a marca do destino, me palpitou na pegada,
Bagual da venta rasgada não nasce pro pasto fino.
E quando as noites se amansam nas luas cheias do outono,
Nem se mexe o cinamomo prá escutar canto e cordeona,
Uma polquita chorona, num trotesito chasqueiro,
Embala a luz do candeeiro anomando as sombras mortas,
E o fole rouco se entorta num compasso galponeiro.
Não raro o sono se arisca e a solidão me acompanha.
Golpeio um trago de canha e enquanto a noite se alonga,
Vou repontando milongas das hileiras assoleadas,
E as rudes mãos calejadas de mango, rédeas e crinas
Vão se parando franzinas no acorde das madrugadas.
Primeiro, o canto dos galos, depois a barra do dia.
A boieira, estrela guia, aos poucos vai se apagando,
Do pampa se levantando, nessas auroras serenas
Brotam xucras cantilenas no clarim da passarada
Com relinchos da potrada e o guizo, das nazarenas.
Rodadas, não tive muitas, em domas, se roda pouco,
Mas “hai” sempre um potro louco, velhaqueador, caborteiro,
Que o índio por mais ligeiro, não se afirma nos arreios
Às vezes, um tombo feio, às vezes saio parado.
Po isso evito alambrado e o pelado dos rodeios.
Pelos surungos do povo, tocando gaita em bolichos,
Vez por outra algum cambicho reacende o sonho de um rancho,
Mas o destino carancho me acorda num sofrenaço
E aos corcovos e laçaços, sempre lidando sozinho
Volto a trilhar os caminhos de Matungos e Gaitaços.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
O Quero-Quero, Ave Simbolo do Rio Grande do Sul
Pela Lei n 7.418, de 1º de dezembro de 1980, o Estado do Rio Grande do Sul instituiu, como sua Ave-símbolo, o Quero-Quero, cujo nome científico é Venellus chilensis. Popularmente, também é conhecido como “térem-terém”, ou “téu-téu”.
O quero-quero tem voz extremamente estridente. Adota, às vezes, a tática de pescar, semelhante a certas garças, espantando larvas de insetos e peixinhos ocultos na lama, mexendo rapidamente um pé. É comum em todo o folclore brasileiro, de Norte a Sul, participar de cantos, estórias, tradições. Também é cantado e citado em poemas regionais do Rio Grande do Sul.
Rui Barbosa, em 1914, incluiu-o num discurso célebre pela vivacidade maliciosa e originalidade da sátira. Evocou a “figura imperatória do quero-quero, o chantecler dos potreiros. Este pássaro curioso, a que a natureza concedeu o penacho da garça real, o vôo do corvo e a laringe do gato, tem o dom de encher os descampados e sangas das macegas e canhadas com o grito estrídulo, rechinante, profundo, onde o gaúcho descobriu a fidelíssima onomatopéia que o batiza”.
Ave tradicional dos campos gaúchos, com o chamativo de preto, branco e cinzento na plumagem, o penacho na cabeça com cauda branca e os olhos vermelhos. O quero-quero é facilmente encontrado em todas as estações do ano, em qualquer parte do Estado onde existe um pedaço pequeno de seu habitat preferido, o campo.
Vive em casais e a fêmea normalmente põe de três a quatro ovos em campo aberto. O casal defende rigorosamente seu território de criação, com vôos rasantes, atacando os intrusos. Possui um esporão pontudo, ósseo, no encontro da asa e que pode ser usado para a sua defesa.
Vê-lo cruzando no céu ou ouvi-lo cantando ao longe é como receber boas-vindas por estar no RS. Chamado de “Sentinela dos Pampas”, está sempre em alerta, noite e dia, dando sinais a grande distância de quem se aproxima.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Os Maragatos
Maragato foi o nome dado aos sulistas que iniciaram a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul em 1893, em protesto a política exercida pelo governo federal representada na província por Julio de Castilhos. Os maragatos eram identificados pelo uso de um lenço vermelho no pescoço.
O termo tinha uma conotação pejorativa atribuída pelos legalistas aos revoltosos liderados por Gaspar da Silveira Martins, eminente tribuno, e o caudilho estrategista Gumercindo Saraiva, que deixaram o exílio, no Uruguai, e entraram no Rio Grande do Sul à frente de um exército.
Como o exílio havia ocorrido em região do Uruguai colonizada por pessoas originárias da Maragateria (na Espanha), os republicanos, então chamados Pica-paus, os apelidaram de Maragatos, buscando caracterizar uma identidade "estrangeira" aos federalistas.
Com o tempo, o termo perdeu a conotação pejorativa e assumiu significado positivo, aceito e defendido pelos federalistas e seus sucessores políticos.
Na Revolução de 1923 desencadeada contra a permanência de Borges de Medeiros no governo do estado, novamente a corrente maragata rebelou-se, liderada pelo diplomata e pecuarista Assis Brasil. Seus antagonistas que detinham o governo, eram chamados no Rio Grande do Sul, de Ximangos, comparando-os à ave de rapina. O lenço vermelho identificava o Maragato. O lenço branco identificava o Pica-Pau e o Chimango.O movimento originou, no Rio Grande do Sul, o Partido Libertador, de grande influência regional.
domingo, 26 de junho de 2011
Poesia O Mate
Dizem que o mate afoga
As mágoas do coração;
Mate sobre mate tomo,
As mágoas boiando vão.
Eu venho lá de longe,
Noite velha adiantada;
Dá-me um mate-chimarrão,
Minha boa misturada.
Senhora dona da casa,
Eu sou muito pedichão;
Mande me dar de beber,
Mas que seja um chimarrão.
Senhora dona da casa,
Dê-me um chimarrão
Com quatro pedras de açúcar,
E queijo e bastate pão.
Do meu canto eu estou vendo
Quantos mates vais chupando;
Quando me chegar a cuia,
Os pauzinhos 'stão nadando.
Eu não quero tomar mate,
Quando os ricos 'stão tomando;
Quando chega a vez dos pobres,
Os pauzinhos 'stão nadando...
Quem quiser que eu cante bem
Dê-me um mate de congonha,
Para limpar este peito,
Que está cheio de vergonha.
As mágoas do coração;
Mate sobre mate tomo,
As mágoas boiando vão.
Eu venho lá de longe,
Noite velha adiantada;
Dá-me um mate-chimarrão,
Minha boa misturada.
Senhora dona da casa,
Eu sou muito pedichão;
Mande me dar de beber,
Mas que seja um chimarrão.
Senhora dona da casa,
Dê-me um chimarrão
Com quatro pedras de açúcar,
E queijo e bastate pão.
Do meu canto eu estou vendo
Quantos mates vais chupando;
Quando me chegar a cuia,
Os pauzinhos 'stão nadando.
Eu não quero tomar mate,
Quando os ricos 'stão tomando;
Quando chega a vez dos pobres,
Os pauzinhos 'stão nadando...
Quem quiser que eu cante bem
Dê-me um mate de congonha,
Para limpar este peito,
Que está cheio de vergonha.
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